Da Poesia [e um pouco sobre Hilda Hilst]

Olá a todos,

Sou um pouco suspeito para resenhar um livro de poesia, além de escrever poemas, também sou leitor ávido de poesia brasileira e estrangeira. Quando Da Poesia chegou em casa [e que edição maravilhosa], pulei toda minha lista de leitura e pude estar novamente de frente com Hilda Hilst. Essa resenha, com trechos da entrevista que realizei com Mariana Payno do IHH, remetem mais a impressões, pois Hilda se revela múltipla para cada leitor.

Título: Da Poesia
Autor: Hilda Hilst
Editora: Companhia das Letras (cortesia)
Ano: 2017
Páginas: 584
Sinopse: A intensa e prolífica atividade literária de Hilda Hilst se desdobrou em livros de ficção e em peças de teatro, mas foi na poesia que ela deu início e fim à sua carreira. Ao longo de 45 anos, entre 1950 e 1995, a poeta publicou em pequenas tiragens graças ao entusiasmo de editoras independentes — com destaque para Massao Ohno, seu amigo e principal divulgador. No início dos anos 2000, os títulos de Hilda passaram a ser publicados pela Globo, editora com ampla distribuição. Nessa época, a sua escrita, até então considerada marginal e hermética, começou a receber o interesse de uma legião de leitores e estudiosos. Agora, a Companhia das Letras reúne, pela primeira vez, toda a lavra poética da autora de Bufólicas em um só livro, que inclui, além de mais de 20 títulos, uma seção de inéditos e fortuna crítica. O material contém posfácio de Victor Heringer, carta de Caio Fernando Abreu para Hilda, dois trechos de Lygia Fagundes Telles sobre a amiga e uma entrevista cedida a Vilma Arêas, publicada no Jornal do Brasil em 1989. A poesia de Hilda — que ganha forma em cantigas, baladas, sonetos e poemas de verso livre — explora a morte, a solidão, o amor erótico, a loucura e o misticismo. Ao fundir o sagrado e o profano, a poeta se firmou como uma das vozes mais transgressoras da literatura brasileira do século XX.

São puros, vão morrer como anjos.
Vão morrer sem nada saber
daqueles dias perdidos.
Vão morrer sem saber que estão morrendo. - Trecho de Presságio




Resenha:
(contém trechos de entrevista realizada por e-mail com Mariana Payno)

A poesia de Hilda Hilst sempre me cativou, seja por essa influência do português de portugal presente em muitos poemas, principalmente em Trovas de Muito Amor Para um Amado Senhor, ou por esse desejo ardente que transborda entre as palavras da escritora. Com um legado poético extenso, a Cia. das Letras decidiu reunir toda a obra poética dispersa da autora, agora presente em Da Poesia.

O livro "Da poesia" reúne a obra poética completa de Hilda, com alguns poemas e textos nunca antes publicados. Hilda sempre dizia que gostaria de ver seus escritos reunidos em um livro "que para em pé", e isso certamente a Companhia das Letras conseguiu com essa edição -- que, aliás, está bem bonita. Felizmente, o número de leitores de Hilda cresce cada vez mais, e esse movimento vem desde a reedição de sua obra pela editora Globo, sobretudo nos últimos anos com "Fico besta quando me entendem" e "Pornô Chic". Nós esperamos que o livro "Da Poesia" e tudo que será publicado daqui para frente pela Companhia das Letras sejam não só um deleite para os leitores habituais de Hilda como também uma porta de entrada para novos leitores, e que ela seja cada vez mais lida.

Com uma escrita orgânica, apelativa e composta de versos livres, Hilda consegue escrever sobre o desejo, solidão, amor e dor, temas recorrentes de seus primeiros poemas. A autora não se reduz a uma única face, ela se mostra múltipla em poemas como Presságio, Dez Chamamentos ao Amigo e até se transforma trovadora em Trovas de Muito Amor Para um Amado Senhor. O lado profano de Hilda é exaltado em momentos altos da sua poesia, essas multiplicidade faz dela uma figura tão enigmática da poesia brasileira, ela escreve sobre o humano, sobre o sentir e o sentido, a obra dela é completamente sensorial. 

O livro "Da poesia" é uma ótima porta de entrada para a literatura de Hilda, porque o leitor pode ter uma noção ampla e completa da obra poética da escritora. Os textos estão divididos por ordem cronológica, o que facilita também a compreensão dos diferentes momentos de sua literatura, da juventude à maturidade. Não é um livro para ser consumido de uma vez, e sim apreciado aos poucos em toda sua profundidade. Para os interessados em embarcar também na prosa, o IHH tem um guia de leitura de Hilda Hilst bem bacana: http://www.hildahilst.com.br/blog/guia-de-leitura-de-hilda-hilst.

O maior desejo de Hilda Hilst era ser lida, depois de uma vasta obra poética, a autora decidiu tentar o erótico. Antes disso, ela se retirou de São Paulo e veio a morar em Campinas, na Casa do Sol, que hoje foi transformada em um instituto, aberto para visitas. Da Poesia também reúne alguns poemas inéditos de Hilda, que foram achados no acervo da UNICAMP, quase tudo na reunião realizada pela Cia. Das Letras é ''inédito'', já que a maioria dos livros de Hilda estão esgotados. 

Hilda vendeu parte de seu acervo pessoal para o CEDAE da Unicamp ainda em vida, mas grande parte do seu legado -- incluindo sua biblioteca pessoal, plantas da casa, fotos, filmes em Super 8, rascunhos e datilografias originais etc -- permaneceu na Casa do Sol. Desde 2015, o Instituto Hilda Hilst coordena o projeto Sala de Memória Casa do Sol, para revitalização e organização desse acervo. Naquele ano, a casa passou por uma série de reformas para poder abrigar adequadamente os materiais do acervo, mas procuramos manter, dentro do possível e seguro, estruturas originais que não descaracterizassem a casa que Hilda construiu e onde viveu por 40 anos. No início, o projeto teve apoio do Itaú Cultural, e hoje em dia a preservação do acervo e da Casa do Sol é possível graças à colaboração de nossos leitores pelo Clube Obscena Lucidez (o clube de assinaturas do IHH, www.hildahilst.com.br/clube) e pelo nosso Programa de Residências (http://www.hildahilst.com.br/instituto-hilda-hilst#inst-programa-de-residencias).

Com certeza Hilda Hilst ainda é uma figura a ser descoberta pelos leitores brasileiros, com a reunião de poesia que fora realizada recentemente, o leitor jovem ou adulto consegue entrar em contato com uma figura tão múltipla e repleta de momentos, ferramenta que consegue ser transpassada e vista quando a obra é visualizada de um conjunto. 

Em 2004, a escritora morreu em decorrência de uma queda que causou uma fratura no fêmur. A obra de Hilda é preservada através do Instituto Hilda Hilst, com sede na Casa do Sol, em Campinas, onde a autora morou e recebeu vários outros escritores como Lygia Fagundes Telles e Caio Fernando Abreu

Atualmente, o maior desafio do IHH é continuar preservando o acervo de Hilda Hilst e manter as nossas atividades na Casa do Sol. O instituto é uma organização independente e não conta com nenhum patrocínio governamental ou privado neste momento. Por isso, decidimos criar o nosso clube de assinaturas, mencionado acima, como uma forma de ativar uma rede de colaboradores para nos apoiar nessa empreitada de manter viva a memória de Hilda. Neste link, todos os interessados podem saber mais sobre as maneiras de fazer parte dessa história: http://www.hildahilst.com.br/blog/maneiras-de-apoiar-o-ihh. E, na nossa página do Facebook (www.facebook.com/InstitutoHildaHilst) e no nosso Instagram (www.instragram.com.br/obscenalucidez), é possível acompanhar todas as nossas atividades.

Da Poesia é um prato cheio para leitores, poetas, enfim, para todos! O maior triunfo de Hilda foi ter sido tão diversa, profana e bela com as palavras, cabe unicamente ao leitor desvendar e deleitar-se com versos tão completos de desejo, solidão e amor. 



Meu profundo agradecimento a Mariana Payno por conceder-me esta entrevista.

P.S.: Vocês podem encontrar um poema feito por mim em homenagem a Hilda Hilst no meu feed do Instagram - @obscena.lucidez


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